Às vezes me pego pensando quase como um “One Man Band” !

      Tocando numa banda em que a formação é hoje guitarra, baixo, bateria e vocal, a parte harmônica é quase sempre comprometida quando há necessidade de montar a base principal em músicas que existem mais de uma guitarra, principalmente quando os teclados são peça importante no tema.
Eu tenho um certo prazer em montar arranjos em que possa solucionar alguns “buracos” causados pela falta da segunda guitarra, ou mesmo, em trechos que a guitara consegue ocupar bem a função que este outro instrumento faria no tema. Nessas horas me pego pensando quase como um “one man band”, ora tentando tocar harmonia/melodia, ora buscando o que se encaixa melhor em duetos, usando baixo pedal, cordas soltas, capotraste, efeitos, enfim, tudo que auxilie o arranjo a soar mais completo. Encontrar caminhos para isso me é um desafio que inexplicavelmente instiga, e infelizmente em algumas poucas vezes não consigo o resultado desejado...
Nessa hora, procuro então pensar em algo que o baixo, ou vozes e até mesmo um tímido violão feito pelo vocalista possa auxiliar, mas já passa para um trabalho de arranjo envolvendo diretamente a banda.

Alguns temas misturo pequenos trechos feitos pelo teclado da canção que está sendo preparada agregando ao que já faço na guitarra dessa mesma canção. Um bom exemplo disso é em “Highway Star” do Deep Purple. Nessa música além de fazer o solo de teclado na guitarra, gosto de usar pequeninos trechos que Jon Lord faz durante a música, que são bem característicos. Para encorpar mais o resultado, costumo usar o pedal Phase 90 da MXR setado em 9h para que o fraseado pareça "embolar" muito sutilmente, como o hammond às vezes me parece soar nesse solo da canção.
No primeiro trecho do vídeo abaixo desse texto, coloquei uma amostra retirada de um vídeo amador que foi feito de um dos shows, apenas como exemplo.

Pedais que emulam as caixas leslie com drive seriam perfeitos, mas meu board ainda não tem o privilégio de contar com um desses pedais, que espero um dia adquirir. Isso seria muito usado por mim em vários arranjos, pois não são poucos os temas que utilizo esta abordagem.

Em, por exemplo,  “You Better You Bet” – tema do The Who onde os teclados são predominantes, montei todo o arpejo do teclado de forma a lembrar alguns trechos mais evidentes, como a introdução e pequenos trechos durante a canção (já que emular tudo seria impossível). Quando comecei, não sabia se isso resultaria em algo convincente, mas a banda fez soar de forma original sem deixar que a música fugisse do que é.

Um dos trabalhos que mais gostei, mas que acabou não entrando para o repertório, foi usar o delay Boss DD-3 e capotraste para montar um arranjo dos teclados do início de “Baba O ´Riley” do The Who. Existe uma gravação do áudio de um teste que fiz quando montei o arranjo, que é o segundo exemplo do pequeno vídeo aí abaixo.


Outro trabalho que fica interessante são as dobras de guitarra, que dependendo de como foram feitas, soam bem usando uma guitarra apenas.
Em “Achilles Last Stand” do Led Zeppelin eu começo em duetos que aos poucos vai subindo, onde blocos de acordes oferecem estes intervalos, assim como na canção original, sendo que lá é uma série de camadas de guitarras.

Consegui um resultado que considero bem satisfatório e divertido na hora de executar este arranjo. É o que demonstro na última parte do vídeo-exemplo abaixo, também apenas o áudio (e usando mais uma vez o Phase 90 da MXR, que consta na canção original).

Bem, existem várias possibilidades, testá-las é sempre um exercício criativo e que coloca você de encontro com o arranjo de forma bem mais profunda, afinal, é necessário não só escutar as partes que o guitarrista executa, mas observar o que o contrabaixo, o teclado e outro instrumento relevante na música está executando e avaliar o que pode ser pinçado e usado.

Experimente, pode ser muito útil, e por vezes, divertido.

Vídeo com os trechos contendo os exemplos citados acima:

Abraços!
Marcos “Lelo” Craveiro