sábado, 2 de maio de 2009

“Toca Rauuuuuul!”… Ok, mas só se for “Raul-way Star”!

(ou “Porquê escolhemos tocar o rock  internacional”)

 

Purple e RAUL

 

Pois é, em todos os lugares, sempre que uma banda cover se apresenta, uma coisa é sempre inevitável: Alguém vai gritar da platéia “Toca Raul” !!! E não interessa que a banda só toque reagge, ou só classic rock internacional (ou seja lá o que for), mesmo que por simples galhofa, alguém vai gritar este bordão. E se não gritar, até a própria banda grita no microfone e pede para si própria, ainda que seja para mexer com a platéia. Até o Zeca Baleiro acabou compondo uma música sobre isso. E até eu não resisti e na EXPOMUSIC desse ano que passou, gritei “Toca Raul” no meio do show do virtuoso contrabaixista Stu Hamm hahahHAHAhah. (Ok, foi sacanagem, mas foi divertido, alguns riram, outros quiseram me matar...).

O fato é que dependendo do perfil da banda e do bar, tocar rock nacional é inevitável. Mas, como nossa banda tem outras motivações que a levam a tocar por aí, que não exclusivamente as financeira$, optamos por fazer aquilo que nos empolgava. E até pra tocar o estilo que você gosta, você acaba por fazer concessões, tocando mais músicas óbvias do que normalmente tocaria, e coisas assim.

Mas o que levou esta banda cover a tocar apenas o rock internacional?

Quando resolvi montar uma banda de cover, e não uma banda autoral, imaginei em primeiro lugar, me colocar para tocar ao vivo novamente, pois havia anos que não me apresentava mais, e havia perdido o contato com a situação “palco/público”, com seus prazeres e suas agruras. Tocar com banda te traz uma responsabilidade para com a execução, arranjo, equipamento, memorização das canções, de trato com o “business” e uma disciplina que não teria apenas tocando em casa. Só que tudo isso dá trabalho, e não é POUCO trabalho. Escolher canções que tragam equilibrio entre o que você tocaria com 100% de prazer, com aquelas que, apesar de bacanas, já estão saturadas para o músico, (mas que trazem grande retorno de satisfação com a platéia), não é tão simples, pois ambos – músicos e platéia - devem estar motivados para que o show saia sempre interessante, e é por isso que é fundamental como integrantes da banda, aproximar-nos ao máximo possível da nossa essência musical.

Como guitarrista, minha “praia” sempre foi o rock dos anos 60 e 70, com boas doses das décadas de 50, 80, e por fim, um pouco de 90… E sempre ouvi e toquei estes sons, o que é natural para mim. Quando decidi reunir pessoas para uma banda, as procurei com objetivos e gostos similares, e acho que tive bastante sorte até, pois a banda tem uma porcentagem até alta de compatibilidade naquilo que escuta em casa. Sim, gostamos de rock nacional também! Alguns integrantes da banda mais que outros, é verdade, mas a coisa é um pouco mais entranhada, como tento expor a seguir.

Vou falar olhando sob meu “lado do prisma”, ou seja, pelo olhar do guitarrista da banda. Sabemos (nós, amantes do Rock and Roll) que estes seres peculiares – ou seja, nós, os guitarristas -  nos apegamos a muita coisa além dos maravilhosos riffs de guitarra contidos no rock. Nós adoramos “timbres”, sejam eles de guitarras, de efeitos, de amplificadores, adoramos as várias técnicas empregadas nesse estilo, como afinações alternativas, uso de slide, e-bows, uso de capotrastes, two-hands, harmônicos artificiais, arcos de violino (!), etc,  e amamos as centenas de modelos consagrados de guitarras. Nós realmente subimos nos palcos querendo brincar de tudo isso, e é exatamente o rock clássico, consagrado de décadas, que está recheado desses “quitutes” que tanto nos apetecem!

Mas não para por aí. Além do gosto pela música e pelo que é usado para fazê-la soar desse modo específico, nossa vocação de  xeretas incansáveis nos aproximou com a riquíssima história por trás de tudo isso

Daí, nesse ponto desse longo texto, já deve ter alguém pensando que “o rock nacional tem sua história também, que é boa música, que nós somos preconceituosos”. OK, calma, não me xingue (ainda) se você é um fã do rock brazuca, o texto não se refere exatamente aos famosos e infindáveis embates que tem a (má) intenção inútil de afimar algo como “rock nacional é ruim, rock internacional é bom”.  O rock feito aqui tem muita coisa bacana, e com o passar dos anos teve um avanço em equipamento, timbre, e uso dos efeitos de forma a não ficar devendo para mais ninguém de fora. Você tem músicos excepcionais aqui, acima da média de muitos músicos internacionais consagrados, mas, a história do rock em “terra Brasilis” é bem diferente, e por melhor que seja, não tem a mesma riqueza e importância mundial quando nos referimos a esse estilo em particular, principalmente quando pensamos nas “fontes” de onde bebemos o fraseado do instrumento e da voz, da maneira de se expressar, de onde imitamos os timbres e até mesmo de onde nasceram as primeiras guitarras e amplificadores construídos, sem falar da história do Blues e de todo o panorama político, social e racial exposto nas inúmeras figuras de linguagem de famosas letras que fundamentaram o estilo, além, claro, das históricas gravadoras como Chess, Motown e Atlantic.

Por fim, olhando pelo motivo mais simples e óbvio, nada mais é que apenas uma escolha – gostamos mais do rock internacional de um determinado período – e somado a tudo que ele representou e representa e que tanto nos fascina a ponto de aprofundar o assunto e ir além, optamos subir ao palco e fazer o que achamos mais divertido e honesto. Isso significa, além de nossa motivação, o respeito não só conosco a toda essa bagagem “histórico/pessoal/musical” que há anos nos acompanha e que permite nos expressarmos com maior naturalidade, mas respeito também diante daqueles que vierem nos prestigiar esperando receber exatamente o que divulgamos. E para cada um que tenha essa oportunidade de compartilhar com a gente esta experiência, que possa saborear um pouco dessa grande diversão que é o rock and roll.

Ah! E claro, salve o grande RAUL!!

 

Abraços

Marcos “Lelo” Craveiro

Um comentário:

  1. Concordo plenamente... sim, o Brasil tem bom rock, mas é complicado comparar as virtudes do nosso rock com o rock daqueles que criaram o gênero... é como querer comparar o nosso samba com o de outros lugares: não é possível...

    ... pela menos é dessa forma que vejo a coisa... nada contra o rock nacional, que até tenho procurado conhecer melhor nos últimos tempos, mas para um músico, que também é o meu caso, é difícil fugir de alguns dos prismas mencionados no texto do Marcos...

    ... enfim, opinião cada um tem uma, e essa é a minha sobre o assunto... ;]

    Abraços!

    ResponderExcluir